domingo, 16 de junho de 2013

A leitura de dados como auxílio para um melhor controle da glicemia

Em 1986, quando fui diangosticada como diabética, os aparelhos de medir glicemia eram algo extremamente sofisticado, e apenas os médicos dispunham deles para tirar o sangue e medir o nível glicêmico na hora. Nós, os pacientes, díspunhamos apenas da glicofita, uma fitinha que, depois de 1 minuto, mostrava a cor correspondente à quantidade de glicose na urina, indicando uma faixa em que a glicemia estivera 2 horas atrás. Isso não ajudava muito no controle.

Comprei meu primeiro aparelho de medir glicemia pelo sangue em 1992, nos Estados Unidos e, como as fitas eram (e continuam sendo) muito caras, media a glicemia no máximo 2 vezes por dia, quantidade insuficiente para traçar o perfil glicêmico. Com orientação médica correta (troquei de médico em 1993), comecei a fazer os testes várias vezes durante o dia, o que melhorou bastante o controle da minha glicemia, principalmente como forma de evitar as hipos. Mas ainda faltava um equipamento para agrupar as informações glicêmicas colhidas e apontar as correções necessárias nas doses de insulina.
Em 2004, comprei o Smart Pix que, a partir da leitura das medidas glicêmicas do aparelho, cria gráficos de horários e dias e mostra a "fotografia" do comportamento glicêmico durante o período analisado. Assim, medindo a glicemia antes e após as refeições, conseguia verificar se a dose basal e a dose de bolus antes das refeições estavam adequadas, ou se precisavam de alguma correção, assunto que discutia na consulta médica.


Mas, como saber como estava se portando a minha glicemia nos momentos em que eu não a media? 

Nos últimos 3 anos, apesar de medir sempre a glicemia e acompanhar pelos gráficos a adequação das doses de insulina, comecei a ter problemas para manter a hemoglobina glicada abaixo de 7,5%, e sofria muitas oscilações glicêmicas, a despeito de utilizar a insulina lantus, que não tem picos de atuação. Com a mesma dose basal, durante o dia a glicemia se mantinha numa faixa de 200mg/dl, e durante a madrugada, numa média de 40 mg/dl. E ainda me tornei assintomática.

Depois de sofrer várias crises espasmódicas durante a madrugada, meu médico me indicou a bomba de infusão de insulina com monitoramento da glicose, que se mostrou extremamente eficaz para diminuir a minha hemoglobina glicada (que há 6 meses está em 6,3%) e também para evitar as crises hipoglicêmicas mais graves com perda da consciência, já que a bomba me avisa antes da minha glicemia ficar abaixo de 80 mg/dl.

No sítio da bomba, verifiquei que ela também dispõe de um leitor de informações, o carelink, que faz gráficos de todos os horários do dia, e mostra o "filme" do comportamento glicêmico durante o período analisado, suprindo a deficiência do gráfico do smart pix, que só mostra o momento em que a glicemia foi medida por ele, e não as 24 horas do dia.
 Mas, considerando que o sensor de glicose da bomba erra muitas vezes, o gráfico do carelink não é confiável por si só, e precisa ser confirmado a partir dos gráficos do smart pix. Assim, utilizo as duas ferramentas de forma conjunta para verificar a adequação das doses basais e do fator de sensibilidade do bolus. Faço esses gráficos comparativos a cada 15 dias, e assim vou ajustando as minhas doses, e depois discuto essas modificações em consulta com o meu encocrinologista.

No início é um pouco complicado decifrar os gráficos, mas com o tempo vamos nos acostumando e entendendo melhor como utilizar esses dados para controlar melhor a glicemia.

O smart pix tem um gráfico que indica o desvio padrão, que é a oscilação da glicemia. Acima de 50, significa que a glicemia sobe e cai muito, ou seja, as distâncias entre o menor e o maior índice glicêmico medido variam muito, e a o "x" fica no padrão instável. Quando essas oscilações são menores (abaixo de 50), o "x" fica no lado do padrão da glicemia estável.


O carelink tem um gráfico que analisa o comportamento da glicemia antes, durante e depois das refeições, o que ajuda a conferir o fator de sensibilidade do bolus. Se o fator de sensibilidade está inadequado, vemos a linha subindo ou descendo entre 1 e 2 horas após a refeição. Quando instalei a bomba, o meu fator de sensibilidade era de 15 para o dia inteiro. Analisando os gráficos do smart pix e do carelink, modifiquei o fator de sensibilidade conforme o horário (13 na parte da manhã, 15 na parte da tarde e de madrugada, e 18 na parte da noite), adaptação aprovada pelo meu médico.

Esse procedimento, de medir sempre a glicemia (2 vezes por mês faço o quadro completo - antes e depois das refeições, antes de dormir e durante a madrugada) e de analisar os dados a cada 15 dias requer um pouco de paciência, mas ajuda bastante a manter a glicemia estável por longos períodos, e saber quando necessitamos de alguma nova modificação dos padrões, propiciando melhor controle, e diminuição dos episódios de hiperglicemia e hipoglicemia.

4 comentários:

DiaDiaDiabetes disse...

Ola Débora,
Tudo bem?
Achei muito legal esses gráficos todos que você usa. Realmente, quanto mais tempo a gente gasta com o diabetes, melhor o nosso controle.
Parabéns pelo seu blog e pelo seu esforço de lutar pelos direitos dos diabéticos!! Espero poder contribuir de alguma forma!
Beijos,
Teresa

Débora Aligieri disse...

Oi, Teresa. Esses gráficos me ajudam bastante viu. Sabe aquela coisa do "quer que eu desenhe?". Esse gráficos fazem isso pra mim...rs. Estou muito contente de estarmos em contato viu. Bom saber que não estou sozinha nessa batalha (pela saúde e pelo direito à saúde) quotidiana! Beijos

Wesllens WA disse...

Oi Débora, como vai? Estava navegando na internet para conhecer algum aparelho de medir glicose e encontrei seu blogger. Débora, estou muito preocupado com meu irmão, 33 anos, pois já perdi as contas em que tive que sair as pressas para socorre-lo. Hoje isso aconteceu novamente, seu caso foi hipoglicemia. Tenho o hábito de ligar para ele todos os dias logo de manhã, quando não atende pode saber. Débora, meu irmão é muito indisciplinado, sei que não é fácil, mas você por a caso teria alguma informação a respeito de controle mais eficaz da taxa de glicose de maneira que uma intervenção pudesse ser feita antes que ocorra a hipoglicemia. Grato.

wesllens

Débora Aligieri disse...

Olá, Wesllens.

Aqui no Brasil, o único dispositivo capaz de detectar a hipoglicemia antes de acontecer é o monitoramento contínuo da glicose intersticial da bomba de infusão de insulina da medtronic. Eu tinha problemas como o do seu irmão, muitas hipoglicemias e sem sintomas. Nem sempre essas crises ocorrem porque o diabético é indisciplinado. Elas podem ocorrer também quando o paciente perde os sintomas e ainda não tem consciência dessa condição (é o que aconteceu comigo, e é o que pode estar acontecendo com o seu irmão). No meu caso, o meu médico me indicou a bomba de insulina com monitoramento da glicose intersticial, para que o aparelho fizesse o que meu corpo não fazia mais: avisar sobre crises de hipo ou de hiper. Em 2012 instalei a bomba e as crises graves de hipo se reduziram a quase zero, porque posso tomar providências antes mesmo que a hipo ocorra. Seu irmão pode conversar com o médico e/ou com a equipe de saúde que o trata, e estudar se esse tratamento pode ser benéfico para ele. Se tiver mais alguma questão, não hesite em perguntar, ok. Abraços, e espero que seu irmão encontre uma forma de ficar melhor.