sábado, 27 de setembro de 2014

Reverberando o Webinário o saber em saúde e o cuidado de si - tudo que você queria saber e não sabia que já sabia (DM)

Uma viagem linda que a comp@nheira da Rede HumanizaSUS Luciane Régio Martins nos proporciona nesse relato sobre o trabalho no HiperDia.

E o mais legal de todos os textos é que o diagnóstico das pessoas (assim como a função técnica dos cuidadores) que fazem parte dos encontros são apenas um pequeno detalhe de tudo o que é relatado. Houve uma composição tão bem costurada entre eles que os títulos técnicos e biopatológicos se perderam dentro de um único: parceiros da alegria! E eles não são apenas parceiros no nome, são também parceiros na construção da saúde de todos e de cada um, usuários e prestadores de serviços de saúde.

Um emocionante caminho construído com muito empenho e participação coletiva. Esse é mais que um cruzeiro de viagem por muitas vidas, é uma cruzada da cidadania!
Vamos reverberar com a Luciane? Segue o texto dela.
Débora! Reverberando….

Muito boa esta tua ideia de reverberar o Encontro-Webinário! Que chegou na rhs assim, meio que, numa tímida chamada, sem saber o ainda o alcance e o tanto que poderíamos dilatá-lo :) 
http://www.redehumanizasus.net/85889-webinario-o-saber-em-saude-e-o-cuidado-de-si-tudo-que-voce-queria-saber-e-nao-sabia-que-ja-sabia

Com a memória registrada daquelas duas horas, de conexões com/para usuários/pessoas interessadas no tema do diabetes, com profissionais de saúde e pessoas que convivem com o diabetes, dada a demonstração ativa das pessoas que acompanhavam no chat da sala de eventos, tivemos uma ideia breve do quanto se pode com os webinários!! http://www.redehumanizasus.net/86069-assista-como-foi-o-ii-webinario-o-saber-em-saude-e-o-cuidado-de-si-tudo-que-voce-queria-saber-e-nao-sabia-que-ja-sabe

Já estava bastante interessante, quando você suscita este reverberar das redes, atualizando aquele Encontro! Diferente, outro, e vamos nós de novo pensar e mergulhar no tema, na delicadeza e política necessária, a partir dos direitos dos usuários. HU!
http://cluster02.totalwork.com.br/86927-os-saberes-em-saude-de-todos-e-de-cada-um-de-nos-reverberando-o-webinario

E, lá vem você, com mais um “plus”, via redes sociais:

Débora Aligieri
1 h · Editado · https://www.facebook.com/luciane.r.martins.3
Em 15.08.2014 eu e o médico e professor Antonio Pithon Cyrino, mediados pelo também médico e professor Ricardo Teixeira, debatemos os saberes práticos em dialogismo com os saberes técnicos, no webinário “O saber em saúde e o cuidado de si: tudo o que você queria saber e não sabia que já sabia”, realizado e organizado em parceria com a Rede HumanizaSUS.
O bate-papo contou também com a valiosa participação dos internautas, que suscitaram muitas questões sobre o autocuidado da pessoa com diabetes, objeto da pesquisa de doutorado do professor Antônio Cyrino, que pode ser conferida no livro "Entre a ciência e a experiência. Uma cartografia do autocuidado no ‪#‎diabetes‬".
Algumas dessas questões não pudemos desenvolver por completo durante o debate ao vivo. Assim, depois de reagrupadas as reflexões coletivas pela comp@nheira Luciane Régio Martins (obrigada querida!) , reverberamos um pouco mais os pensamentos deste webinário.
Vamos reverberar conosco?

A resposta: é claro!!
Aqui está, em forma de post, que registra os caminhos do SUS, atualizados a cada passagem. E, retomando num ponto a frente, e quem saberá o porvir, infinito e além?


Não li ainda o livro do Antonio Cyrino, registro essa vontade, pois trabalhei com grupos HiperDia por 5 anos. O suficiente para abandonar certas práticas “acadêmicas”, que acabam por gerar uma ilusão de que “sabemos tudo e como ajudar”, os chamados, “pacientes”. Para mim, apenas, pessoas. Da experiência acumulada desses grupos, que no início segui chamando (convencionalmente) de “grupos de educação em saúde”, para depois, à medida que conhecia as pessoas e suas vidas, suas casas, e eles a mim, os jeitos da comunidade, de caminhar na vizinhança e respirar/sentir o bairro, fazer encontros no pátio/na grama de casas bastante simples, nas garagens sem carros - com o luxo dos afetos, aceitar o bolo e o chá feito para aquele dia… mudei, radicalmente, a maneira de entender as pessoas que convivem com o diabetes, com a “obesidade”. Aprendi mais da vida com eles, e logo vi que a potência estava na cumplicidade daqueles encontros. Inventamos muitos modos/maneiras de nos encontrar, de conversar sobre o cotidiano da vida, do quanto era difícil para alguns o dia-a-dia de trabalho/compromissos/situação social e econômica: manter uma dieta “adequada”. A cumplicidade que rolava, permitia que pudessem falar abertamente sobre o irresistível pedaço do bolo de aniversário! O refrigerante, que a senhora de 73 anos, ao falar, enchia não a boca, mas os olhos de lágrimas e dizia: “minha filha, eu não consigo, não resisto, eu adoro”. Absolutamente vazio seria o discurso profissional que dissesse: “mas a senhora não pode”. Ela sabia muito sobre si e o diabetes. E, juntos costuramos, conversando, “as bonecas” e os cantinhos de contos” (http://www.redehumanizasus.net/8500-grupos-de-educacao-em-saude-em-cantinhos-de-contos-sao-sepe-rs), viajamos (http://www.redehumanizasus.net/8870-os-estradeirossao-sepe-rs-1-encontro-oficial), preparamos chimarrão, churrascos e almoços de sábados/domingos/terças/de qualquer dia, suco da saúde nas tardes quentes, chás nos dias frios, saladas de frutas – cada um trazia uma fruta, porque na vida, na casa deles/minha é assim. Interessante, não lembro quando foi que introduzimos a “medida das doses”, mas o cuidado de si aparecia o tempo todo! No movimento da vida, com tudo que ela traz de desafios, como resistir à cultura de consumo, identificar ideologias escondidas, e daí possibilidades de produzir encontros entre pessoas de diferentes saberes (profissionais e pessoas portadoras de diabetes, obesidade, hipertensão e outras…). Bem, eles faziam o “controle”? Cada um foi exercitando e criando possibilidades com a equipe, de como fazer esse “controle”… Os grupos, passei a chamá-los de “Grupos de Saúde”!

Esse relato não terá um final, como que, para acabar o texto do post… Isso tudo ainda continua. Eu é que mudei de local, de função, de cidade, e eles continuaram se encontrando! Viajando, fazendo chás e produzindo o cuidado de si em encontros, na expressão de um cuidado singular (que poderia ser um PTS, se assim preferirem, contudo, os registros são desse aspecto subjetivo da vida, do que cada corpo/pessoa vai descobrindo que pode, em um cuidado compartilhado/de cumplicidade). Três pessoas do grupo faleceram, por outras complicações/motivos, especialmente, câncer... Como sei disso? Porque ainda viajo com eles sempre que posso! Os recados não cessam, chegam pela atual enfermeira (que é minha irmã! trabalhávamos juntas), pelas redes sociais (só que a maioria não tem acesso), pelas ACS… Acho uma pena que não publiquem na RHS, mas quem sabe?!

Apresentamos alguns trabalhos sobre esses grupos, um deles, foi premiado pelo Victor Valla, em sétimo lugar :) (não encontrei o relato, por isso copio um publicado na comunidade de práticas/com alterações: http://atencaobasica.org.br/relato/5598)

Minha irmã, fez do grupo um produto de uma especialização: http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/67629/000869824.pdf?sequence=1

O webinário me fez reconectar com várias dessas passagens e pensar em outras, a partir das falas. Sempre estive envolvida/trabalhando na saúde mental, e esses "hiperdias" (na política de atenção integral às pessoas portadoras de diabetes e hipertensão) mudaram a forma como eu via a produção de saúde. Muito de s. mental ai...
Vamos seguir neste reverberar!?

Para você, Débora Aligieri, Os Estradeiros “em mar alto”…
Ainda que esse esteja apenas no horizonte…

Viagem à Lagoa dos Patos – São Lourenço do Sul/RS



 
Arquivos de fotos da ACS Telma, ela no comando!


Aqui, os registros desses anos com grupos HiperDia, que foram agregando a família toda. Eis que me dei conta que, tantos encontros não foram publicados rsrs Então, só uma pequena amostra, do último, ao primeiro:

Estradeiros em contagem regressiva :)
http://www.redehumanizasus.net/12644-estradeiros-em-contagem-regressiva

Despedida http://www.redehumanizasus.net/12328-despedida

Estradeiros, grupo de saúde *:-) http://www.redehumanizasus.net/11612-estradeiros-grupo-de-saude

Um SUS sem igual: o nosso
http://www.redehumanizasus.net/11215-um-sus-sem-igual-o-nosso#comment-27536

Um SUS com muitas possibilidades
http://www.redehumanizasus.net/10883-um-sus-com-muitas-possibilidades

Grupos de Educação em Saúde da Vila Block/São Sepé-RS
http://www.redehumanizasus.net/8920-grupos-de-educacao-em-saude-da-vila-blocksao-sepe-rs

Os Estradeiros/São Sepé-RS: Encontro official http://www.redehumanizasus.net/8870-os-estradeirossao-sepe-rs-1-encontro-oficial

Encontro de gerações: Campanha Anual de prevenção ao Diabetes e semana do bebê em São Sepé – Parte IV http://www.redehumanizasus.net/8684-encontro-de-geracoes-campanha-anual-de-prevencao-ao-diabetes-e-semana-do-bebe-em-sao-sepers-parte-iv

Encontro de gerações: Campanha Anual de prevenção ao Diabetes e semana do bebê em São Sepé – Parte III
http://www.redehumanizasus.net/node/8677

Encontro de gerações: Parte II
http://www.redehumanizasus.net/node/8680

Encontro de gerações: Campanha Anual de prevenção ao Diabetes e semana do bebê em São Sepé/RS – Parte I
http://www.redehumanizasus.net/8676-encontro-de-geracoes-campanha-anual-de-prevencao-ao-diabetes-e-semana-do-bebe-em-sao-sepers-parte-i

Grupo de Educação em Saúde: “Nós adoramos segundas-feiras!”-Grupo de caminhadas “Ânimo de viver”
http://www.redehumanizasus.net/8570-grupo-de-educacao-em-saude-nos-adoramos-segundas-feiras-grupo-de-caminhadas-animo-de-viver-sao-sepe-rs

Grupo de Educação em Saúde em “Cantinhos de Contos”-outros videos/São Sepé-RS
http://www.redehumanizasus.net/8550-grupo-de-educacao-em-saude-em-cantinhos-de-contos-outros-videos-sao-sepe-rs

Grupos de Educação em Saúde em: “Cantinhos de Contos”/São Sepé/RS
http://www.redehumanizasus.net/8500-grupos-de-educacao-em-saude-em-cantinhos-de-contos-sao-sepe-rs

Grupos de Educação em Saúde Estradeiros! São Sepé… Santa Cruz do Sul/RS
http://www.redehumanizasus.net/8415-grupos-de-educacao-em-saude-estradeiros-sao-sepe-santa-cruz-do-sul-rs

Em pesquisa aos.. Grupos de Educação em Saúde: vínculos, acolhimento e co-gestão em atenção primária… quem mais e co(m)-move?
http://www.redehumanizasus.net/8074-em-pesquisa-aos-grupos-de-educacao-em-saude-vinculos-acolhimento-e-co-gestao-em-atencao-primaria-quem-mais-se-com-move#comment-27535

Grupos de Educação em Saúde, Grupos vivos!
http://www.redehumanizasus.net/8175-grupos-de-educacao-em-saude-grupos-vivos-sao-sepers

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

II° Encontro Diabéticos Unidos Por Uma Vida Melhor

Quando: dia 28/09/2014 (próximo domingo), às 9:30 
 
Onde: Parque da Água Branca - Avenida Francisco Matarazzo, 455 - São Paulo - SP
 
Como participar: levar um prato de alimento (diet ou com possibilidade de contagem de carboidratos) para o piquenique, e comparecer de preferência vestindo azul.
 
Este encontro está sendo organizado e promovido pela Associação Sempre Amigos de Indaiatuba/SP, fundada em 2007 por um grupo de mães que tinham como objetivo entender as causas e consequências da diabetes, assim como lutar pelos seus direitos e buscar melhor acolhimento e tratamento para seus filhos.

O diabetes para elas deixou de ser algo pessoal e passou a ser coletivo. Suas causas, consequências, desafios, medos e formas de superação passaram ser vistos como algo maior e bem mais amplo, que envolve as saúdes pública e privada.

Desde o início, o que mais se destacava no grupo era a necessidade da educação, orientação correta, tratamento adequado e acesso à medicação e aos insumos.

Foi com esse espírito que nasceu a Sempre Amigos, cujos objetivos são: lutar pelos direitos dos portadores de diabetes, buscar ativamente novos casos da doença, focar a educação em diabetes, dar apoio e orientação aos que precisam, e divulgar novas tecnologias científicas em relação à doença, entre outros.

Após esse sete anos de atividades, foi estabelecida também como uma das prioridades conseguir um local próprio para o desenvolvimento das atividades. Atualmente a sede está localizada na Rua Chile, nº 494, Vila Castelo Branco - Indaiatuba-SP. 
 
Mais informações sobre a Associação Sempre Amigos:


quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Programa de TV sobre valorização do trabalho e do trabalhador da saúde pública - hoje 25.09.14, às 16h00

O programa EspaSUS desta quinta-feira (25/09/14), traz o tema do trabalho em saúde na perspectiva da Política Nacional de Humanização (PNH), que tem como uma de suas diretrizes a valorização do trabalho e do trabalhador da saúde.


Os debateres poderão apresentar o histórico dos processos de trabalho desde a visão taylorista até as inovações atuais , tal como o trabalho imaterial e sua potência. Apresentar também os desafios cotidianos de trabalhadores que são também usuários do SUS.

Os convidados para debater o tema são: o Médico Pediatra, Sanitarista, Professor universitário aposentado, consultor da PNH, Carlos Roberto Soares Freire de Rivorêdo; a Mestre em Saúde Pública, Psicóloga Sanitarista do Núcleo de Planejamento do IFF/Fiocruz e Apoiadora Institucional, Vanice Silva; e a Agente comunitária de saúde, Quele Goulart.

O programa tem formato dinâmico, com espaço para o debate de temas importantes do SUS e participação do público ao vivo, pela internet. Após a exibição na TVT, a programação do EspaSUS ficará disponível na Rede HumanizaSUS.

A novidade faz parte das novas estratégias de comunicação da Política Nacional de Humanização, em parceria com a Organização Panamericana da Saúde.

Acompanhe o EspaSUS ao vivo, acesse o site  ás 16 horas da tarde e participe!

Fonte: Rede HumanizaSUS


quarta-feira, 24 de setembro de 2014

I Encontro de Blogueiros de Diabetes e de Esclerose Múltipla, e II Encontro de Blogueiros e Ativistas em Redes Sociais da Saúde

Serão dois dias de eventos, com dois encontros temáticos - I Encontro de Blogueiros de Diabetes e I Encontro de Blogueiros de Esclerose Múltipla - e um grande encontro geral - II Encontro de Blogueiros e Ativistas em Redes Sociais da Saúde - nos dias 07 e 08 de Novembro de 2014, na Câmara Municipal de São Paulo (Viaduto Jacareí, 100 - Bela Vista - São Paulo - SP - CEP 01319-900):

Dia: 07 de Novembro das 09 às 17 horas.
Encontro de Blogueiros de Esclerose Múltipla
Encontro de Blogueiros de Diabetes

Dia: 08 de Novembro das 09 às 17 horas.
Encontro de Blogueiros e Ativistas Digitais da Saúde


Prestigiando a participação democrática de todos os interessados, a organizadora dos eventos Priscila Torres convocou a construção colaborativa dos debates, com a possibilidade de envio de sugestões de pauta através do link: http://www.blogueirosdasaude.org.br/?p=395

Se você é Blogueiro, torne-se Parceiro dos Blogueiros da Saúde. Critérios para se inscrever: ser Blogueiro, abordar o tema saúde, morar em território nacional brasileiro, e poder viajar sem acompanhante.

Para enviar sugestões de pauta da imprensa, ou para ser apoiador e/ou patrocinador dos encontros escreva para "blogueirosdasaude@hotmail.com"

Se você perdeu o I Encontro, leia o post completo sobre o evento em: www.blogueirosdasaude.org.br/p/i-encontro.html

Fonte: Blogueiros da Saúde



Encontro de Blogueiros de Diabetes

Diabetes mellitus (DM) não é uma única doença, mas um grupo heterogêneo de distúrbios metabólicos que apresenta em comum a hiperglicemia resultante de defeitos na ação da insulina, na secreção de insulina ou em ambas (Sociedade Brasileira de Diabetes - SBD). Sua classificação etiológica inclui quatro classes clínicas: DM tipo 1 (DM1), DM tipo 2 (DM2), DM gestacional e outros tipo de DM (SBD, Organização Mundial de Saúde - OMS, e American Association of Diabetes - ADA).

Segundo as Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes 2013/2014 (Epidemiologia e prevenção do diabetes mellitus), uma epidemida de diabetes mellitus (DM) está em curso. Em 1985, estimava-se haver 30 milhões de adultos com DM no mundo; esse número cresceu para 135 milhões em 1995, atingindo 173 milhões em 2002, com projeção de chegar a 300 milhões em 2030. Cerca de 2/3 desses indivíduos com DM vivem em países em desenvolvimento, onde a epidemia tem maior intensidade, com crescente proporção de pessoas afetadas em grupos etários mais jovens (...)

No Brasil, no final da década de 1980, estimou-se a prevalência de DM na população adulta em 7,6%; dados mais recentes apontam para taxas mais elevadas. Segundo a Federação Internacional de Diabetes, o Brasil apresenta o quarto maior número de diabéticos no mundo: 13,4 milhões de pessoas já foram diagnosticadas com a doença e estima-se que existam 6,1 milhões de pessoas ainda não diagnosticadas. Conforme relatório de 2013 do Tribunal de Contas da União sobre saúde no Brasil, a prevalência do diabetes no país atingiria 10,52% nos adultos entre 20 e 79 anos, o que seria a 165ª maior taxa entre 216 países. Aduz-se que a taxa mundial é de 8,2%.

A taxa de mortalidade por diabetes é um dado que apresenta uma significativa subnotificação no país, pois, quando associada à outra causa no óbito, é desconsiderada pelas estatísticas nacionais, que registram apenas a causa básica da morte. Em 2010, essa taxa foi de 28,8 óbitos para cada 100.000 habitantes.

Os custos do DM afetam o indivíduo, a família e a sociedade, porém não são apenas econômicos. Os custos intangíveis (p. ex., dor, ansiedade, inconveniência e perda de qualidade de vida) também apresentam grande impacto na vida das pessoas com diabetes e seus familiares, o que é difícil de quantificar.

Combinando as estimativas para 25 países latino-americanos, calcula-se que os custos decorrentes da perda de produção pela presença de DM podem ser cinco vezes maiores que os diretos. Esse fato se deveria ao acesso limitado à boa assistência à saúde, com consequente elevada incidência de complicações, incapacitações e morte prematura.

Prevenção efetiva também significa mais atenção à saúde de forma eficaz. Isso pode ocorrer mediante prevenção do início do DM (prevenção primária) ou de suas complicações agudas ou crônicas (prevenção secundária), através de campanhas informativas e tratamento medicamentoso adequado, além de dieta alimentar e prática regular de exercícios.

No âmbito nacional, os medicamentos para tratamento público de diabetes são elencados na Portaria nº 2.583, de 10 de outubro de 2007 (protocolo do SUS de diabetes), contendo apenas os dois tipos mais antigos de insulina: NPH e Regular. Processadas com tecnologia de 1936, essas insulinas não cumprem o papel de garantir o tratamento adequado da doença (artigo 175, § único, IV, da Constituição Federal). O padrão aqui adotado, com insulinas que há 30 anos não são mais usadas por pessoas com DM1 nos Estados Unidos, é o mesmo do Haiti - país com o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da América.

Recentemente, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias - CONITEC do Ministério da Saúde estudou a possibilidade de incorporação de insulinas mais modernas ao protocolo do SUS, os chamados análogos de insulina, mas, por razões primordialmente financeiras, a incorporação foi rejeitada. Também faltam campanhas públicas informativas de prevenção e tratamento da doença mais eficientes, já que a educação integra o dever de promoção da saúde e direito de todo cidadão, previsto nos artigos 196 a 200, da Constituição Federal.

Daí a necessidade de uma ampla discussão sobre a situação do diabetes e dos diabéticos no Brasil, para que haja maior controle social sobre as políticas de saúde relacionadas à doença no âmbito do SUS, e para que as pessoas que convivem com ela não fiquem desamparadas e desinformadas neste hiato entre o que há e o que precisamos, em que o Estado não educa a contento os seus cidadãos. Lembrado que a participação popular direta na construção do SUS é princípio expresso no artigo 198, III, da Constituição Federal.

Cabe a nós, blogueiros e ativistas, levantar esta causa perante a sociedade brasileira, porque a mídia tradicional, financiada por propagandas de planos privados de saúde em seus periódicos escritos e televisionados, certamente não vai promover um debate em prol da melhoria do SUS.

Blogueiros que não residem em São Paulo e que precisam de financiamento para comparecer devem preencher um formulário pelo link: https://docs.google.com/forms/d/1-o4N8kxX2buKs3TtRt_8MBTDgHX_cRV4YkGIIZ4Samo/viewform

Espero que todos que se interessam por um cuidado público melhor do diabetes pelo SUS participem deste encontro!

Débora Aligieri - advogada, blogueira e ativista em saúde

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Bomba de insulina com monitorização contínua de glicose reduz os eventos hipoglicêmicos noturnos em até 31,8%

A nova tecnologia, desenvolvida para o controle de Diabetes Tipo 1, previne episódios de hipoglicemia que pode causar desmaio, convulsões e até levar o paciente ao coma.

São Paulo – 18 de Agosto de 2014 ― De acordo com os dados da FID - Federação Internacional de Diabetes, cerca de 11,9 milhões de brasileiros sofrem de diabetes e, estima-se que até 2035, este número cresça para 19,2 milhões de pessoas.

Com esse número, o Brasil é o quarto país com o maior índice de diabetes no mundo – atrás apenas de China, Índia e Estados Unidos - e o primeiro país da América do Sul e Central, seguido pela Colômbia (2,1 milhões), Argentina (1,6 milhões) e Chile (1,3 milhões).

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), calcula-se um aumento de 3% na incidência de diabetes tipo 1 por ano, sendo que deste, 79 mil são crianças menores de 15 anos. Hoje, para cada 100 mil habitantes existem 40 portadores de diabetes tipo 1. Esses pacientes são caracterizados pela incapacidade do pâncreas em produzir insulina, hormônio que necessita ser reposto e pode gerar episódios de hipoglicemia (diminuição no nível de glicose no sangue) podendo causar desmaios, convulsões e até mesmo levá-los ao coma. "Cerca de 50% destes eventos ocorrem à noite, quando é mais difícil de monitorar os níveis de glicose, o que acaba afetando mais as crianças", afirma Dr. Felipe Monti Lora, Endocrinologista Pediatra.

A bomba de insulina Paradigm VEO realiza uma monitorização contínua da glicose, 24 horas por dia, com leituras atualizadas a cada 5 minutos, indicando em que nível está a glicemia do usuário, além de contar com mecanismo automático de suspensão da infusão de insulina para protegê-lo contra episódios de hipoglicemia potencialmente perigosos.

“Isso significa uma real melhora na qualidade de vida do paciente com diabetes tipo 1, uma vez que, além do paciente ter melhor controle dos seus índices glicêmicos, o uso desta tecnologia reduz a quantidade de aplicações de insulina de 4 a 6 vezes por dia, pela troca de um pequeno catéter que garante a administração da insulina em microdoses 24 horas por dia, e que deve ser substituído uma vez a cada três días. Além disso, pode ser colocado e retirado facilmente para realizar atividades diárias como tomar banho ou se exercitar", completa Dr. Felipe Monti Lora.

O estudo ASPIRE publicado no New England Journal of Medicine em 2013 mostrou uma redução de 31,8% nos eventos hipoglicêmicos noturnos e de 37,5% na intensidade e duração dos eventos hipoglicêmicos noturnos em pessoas que usam o sistema de bomba de insulina VEO com monitorização contínua da glicose.

 
As vantagens para o paciente

Maria Luíza, de 9 anos de idade, é uma das primeiras pacientes no Brasil a usar a tecnologia da bomba de insulina Paradigm VEO. A diabetes Tipo 1 foi descoberta em 2011 quando ela tinha apenas 6 anos de idade e os primeiros sintomas identificados pelos pais foram a sede e a vontade constante de ir ao banheiro.
Hoje, apenas alguns meses após começar a utilizar a nova bomba, Maria Luíza e seus pais já sentem uma grande diferença na rotina da família. “Antes ela tomava uma média de 6 injeções diárias de insulina. Hoje, nós substituímos essas injeções pelo uso de um catéter que deve ser trocado a cada 3 dias e que faz a administração automática da insulina”, afirma Edvaldo Simões da Fonseca Júnior, pai de Maria Luiza. “Eu tenho uma planilha de controle onde eu anoto as variações dos níveis glicêmicos da minha filha. Desde a troca pela nova bomba os episódios de hipoglicemia diminuíram mais de 20%”, completa Edvaldo.

Outros benefícios na rotina da família Simões também foram observados. “Nós ficamos menos rígidos na dieta. Hoje, se alguma refeição atrasa ou se ela come alguma coisa fora do horário normal de refeição, não ficamos mais preocupados. Antes, alimentos como açúcar e massa eram bem mais controlados”, explica Edvaldo. “Hoje posso comer cereais açucarados, no café da manhã, tranquila!”, comemora Maria Luíza.

Fonte: Juliana Ugarte - Edelman Significa

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Os saberes em saúde de todos e de cada um de nós: reverberando o webinário

 
Em 15.08.2014 eu e o médico e professor Antônio Pithon Cyrino, mediados pelo também médico e professor Ricardo Teixeira, debatemos os saberes práticos em dialogismo com os saberes técnicos, no webinário “O saber em saúde e o cuidado de si: tudo o que você queria saber e não sabia que já sabia”, realizado e organizado em parceria com a Rede HumanizaSUS.

O bate-papo contou também com a valiosa participação dos internautas, que suscitaram muitas questões sobre o autocuidado da pessoa com diabetes, objeto da pesquisa de doutorado do professor Antônio Cyrino, que pode ser conferida no livro "Entre a ciência e a experiência. Uma cartografia do autocuidado no diabetes".

Algumas dessas questões não pudemos desenvolver por completo durante o debate ao vivo. Assim, depois de reagrupadas as reflexões coletivas pela comp@nheira Luciane Régio (obrigada querida!) , reverberamos um pouco mais os pensamentos deste webinário, que pode ser assistido aqui:

Vamos reverberar conosco?



OUVI UMA EXPERIÊNCIA DE UMA PESSOA QUE NÃO TINHA ONDE ARMAZENAR SUA INSULINA POR ELE MORAR PRÓXIO A UM RIO ELE FOI PRÓXIMO DO RIO E CAVOU UM BURACO E ENTERROU AS INSULINAS E TODOS OS DIAS DESCOBRIA O BURACO. ARMAZENAMENTO DE INSULINA QUANDO NÃO SE A GELADEIRA?

Antônio: Cara Monyque, Esse é um bom exemplo de soluções que as pessoas buscam em seu cotidiano para resolver um problema concreto, neste caso a inexistência de geladeira para conservar a insulina e o uso de um local em que a temperatura é menor que a ambiente.

Débora: Comentei essa história com um amigo ambientalista e ele me disse que a melhor maneira de conservar um vinho em ambiente sem geladeira é enterrar perto do rio, porque a diferença de temperatura entre o dia e a noite o refresca. Assim, utilizar a sabedoria popular é também uma forma de autocuidado. Mas, se a Constituição estatui como diretriz do SUS o atendimento integral sem prejuízo de serviços assistenciais (artigo 198, II) e se a Lei do SUS estabelece “a assistência às pessoas por intermédio de ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, com a realização integrada das ações assistenciais e das atividades preventivas” (artigo 5o, III, da Lei nº 8.080/90), penso que o Estado deveria fornecer uma geladeira a esta pessoa como insumo integrante da manutenção da saúde (eu e Emília falaremos sobre este assunto específico numa postagem futura).




Antônio: Caro Mário. Como você mesmo já começou a responder na sua própria pergunta, de que não se deve trabalhar com receitas padronizadas, dada a diversidade cultural no comer, cabe pensar que os profissionais devem partir dos hábitos e experiência dos seus pacientes para apoiá-los. Assim, espera-se um diálogo entre a experiência do sujeito e os conhecimentos técnico-científicos do profissional de saúde, que pode indicar o que é adequado ou não a pessoa com diabetes. Conversa que terá continuidade ao longo do tratamento e do partilhar de saberes entre profissional e usuário.

Débora: Cada um tem suas preferências e necessidades e restrições alimentares pessoais, por motivos diversos e além da condição de ser diabético. Eu adoro melancia, mas não posso comer à noite porque me dá azia. Durante o dia, contando os carboidratos do pedaço consumido, não há qualquer problema no consumo. A dificuldade talvez esteja em encontrar uma tabela de carboidratos que englobe todos os alimentos existentes. Essa tabela temos nós que fazer no dia a dia, a partir de referências conhecidas. Quando instalei a minha bomba de infusão de insulina recebi uma tabela de carboidratos, que já tem uma série de novos alimentos que eu acrescentei (pesquisando na internet as informações nutricionais e testando na prática pra ver se funciona). Tenho ainda uma mini tabela na bolsa e uma tabela em pdf no celular elaborada pela blogueira Nicole Lagonegro: http://minhafilhadiabetica.com/2013/06/28/tabela-super-completa-para-con...


‹Letícia AMA› A pergunta é, qual a orientação correta para o diabético que vai sair de casa e precisa levar sua insulina. Deixar em temperatura ambiente? A variação de temperatura não altera o efeito da medicação?

Débora: Letícia, o melhor mesmo é verificar o que diz a bula da insulina utilizada. Eu uso a aspart (novorapid). Na bula diz que o refil desta insulina, quando não está sendo utilizado deve ser conservado sob refrigeração (entre 2 °C e 8 °C), não dentro ou muito próximo do compartimento do congelador, e quando está sendo usado não deve ser mantido em refrigerador. Diz ainda que posso carregá-lo e mantê-lo comigo, à temperatura ambiente (não acima de 30 °C), por até 4 semanas e não deve ser refrigerado novamente. Diz também para manter o refill tampado quando não o estiver utilizando para proteger a insulina da luz. Finalmente, a bula recomenda que se proteja a insulina do calor excessivo e de luz solar. Já fui à praia com a bomba de insulina muitas vezes, e em nenhuma delas a insulina perdeu o efeito. Mantenho os refis numa bolsinha, num compartimento da porta da geladeira.


‹Irimar Querino› Tentando promover o estímulo à participação dos cidadãos nos espaços de discussão acerca da saúde, esse inclusive é o tema do meu TCC, que tipo de orientação/dica podem me dar?

Antônio: Caro Irimar, Partir dos problemas concretos da comunidade e debater possíveis caminhos de enfrentamento coletivo, pode ser um caminho interessante!

Débora: Buscar nas leis e nas práticas brasileiras as formas de participação direta dos cidadãos na construção de um SUS mais coletivo e mais democrático.


‹Rojane Couto› A idade obrigatoriamente vai gerar o diabetes?

Antônio: Cara Rojane. A prevalência (número de casos novos e antigos) do diabetes mellitus tipo 2 é progressivamente maior à medida que subimos nas faixas etárias da população.

Débora: A Sociedade Brasileira de Diabetes, em suas diretrizes de 2013/2014, relata que o diabetes vem aumentando com o envelhecimento da população e com os maus hábitos alimentares e sedentarismo (características associadas ao tipo 2). Conforme o Estudo Multicêntrico sobre a Prevalência do Diabetes no Brasil a idade influencia no aparecimento da doença, mas intervenções no controle da obesidade, hipertensão arterial, dislipidemia e sedentarismo podem prevenir o surgimento do diabetes tipo 2 (ler o texto “Epidemiologia e prevenção do diabetes mellitus” em http://www.sgc.goias.gov.br/upload/arquivos/2014-05/diretrizes-sbd-2014.pdf)


‹Heitor Santos R› Gostaria de saber a opinião de todos os instigadores do tema, como lidar com a mudança de cultura do cuidado em saúde que envolve transformações ocorridas no panorama de saúde pública nacional e a relação de Profissional-Paciente, pois acho que existe uma questão chave que não é consenso: o poder de decisão, dependência de saberes e autonomia responsável... Cabe a quem?

Antônio: Caro Heitor. Cabe a pessoa portadora do diabetes a decisão sobre sua vida, o que inclui o tratamento que fará etc, como o apoio do profissional. A propósito, no caso do diabetes e de outras doenças crônicas, é a própria pessoa que realiza o seu cuidado, salvo em situações muito especiais, como numa hospitalização etc. Mas, para que esta pessoa possa se beneficiar das conquistas que a medicina produziu para o cuidado do diabetes (mas, que infelizmente, não estão acessíveis a todos) é essencial que ela tenha um profissional para acompanha-lo. Espera-se que este profissional partilhe suas propostas terapêuticas e dietéticas com o paciente e que este possa participar das decisões, pois é o paciente que irá ou não adotá-las em seu cotidiano.

Débora: Assino em baixo, falou e disse Antônio!


Nana› Pergunta: Vivemos em uma cultura onde o saber médico é a autoridade e percebemos isso em situações macropolíticas mas também em sutilezas nas relações de trabalho com outros profissionais e também de um riso de canto de boca de um médico para com o paciente quando este começa a discutir ou discordar de sua situação de saúde ou doença. Isso faz com que os pacientes nem discutam suas ideias em um atendimento. Vejo que ainda é muito difícil para os serviços de saúde separarem o que é a gerência de si,( ou seja, os serviços ditam o que deve ser feito e o sujeito se adapta como acha melhor dentro de sua vida para seguir as regras, “boa aderência” e quando acontece algo de errado, é visto como culpa do paciente que não seguiu o que lhe foi dito – “não aderiu ao tratamento corretamente”) com o cuidado de si, que seria um diálogo produtor de conhecimento sobre a saúde daquele sujeito, unindo os saberes técnicos com os saberes de vida do sujeito para um objetivo também construído entre ambos. Isso demanda tempo e energia dos sujeitos envolvidos. Eu gostaria de saber o pensamento de vocês, Débora e Antonio que vivem esses dilemas em suas experiências diárias.

Antônio: Cara Nana, um desafio para os educadores dos profissionais de saúde é o de formar profissionais que não só respeitem, mas que também estejam abertos ao dialogo com o sujeito de seu cuidado, suas dificuldades, angustias, seus saberes etc. E que, ainda, partilha as decisões do projeto terapêutico individual em função das necessidades e possibilidades deste interlocutor que tem um outro ponto de vista sobre saúde e doença, aquele de quem vive o problema.

Débora: Nana, essa não é uma questão simples. Assim como todo relacionamento humano, o bom diálogo entre cuidador e paciente envolve investimento de tempo e interesse de ambos num aprofundamento da relação. Na resenha que fiz sobre o livro do Antônio conto um pouco como se deu o desenvolvimento do meu relacionamento com o meu endocrinologista, que há 21 anos cuida de mim (http://www.redehumanizasus.net/84442-o-espelho-em-que-me-reflito-compart...). Não foi algo simples ou rápido, foi algo que demandou tempo e interação entre nós dois para que resultasse no cuidado da minha saúde. Conversamos muito eu e ele nas consultas, e em alguns momentos tenho que lembra-lo que não estudei medicina e que não conheço alguns termos que ele menciona, e ele me explica em termos leigos o que está dizendo. O tratamento com a bomba de infusão de insulina decidimos assim, conversando.


‹Heitor Santos R› Sobre a continuidade (ou adesão) do tratamento: vejo por parte profissional uma necessidade de monitoramento mas, por exemplo em doenças do trabalho somadas a doenças crônicas não transmissíveis, a questão de viabilização do cuidado tanto por parte do suporte assistencial como por alternativas (ou falta delas) priorizadas pelo paciente como poderia ser validada ou medida?

Débora: Pelo bem-estar da pessoa: se ela está conseguindo realizar suas atividades sociais e laborativas sem grandes dificuldades e tem um controle glicêmico dentro de padrões aceitáveis de acordo com idade, sexo, e condições pessoais (no caso de diabetes), acho que a escolha está validada. Ou seja, se a pessoa está feliz e não tem muitos riscos à saúde, acredito que a opção tomada foi acertada.


Observação: considero desenvolvida durante o webinario a questão da Fernanda (Carrasco Bela Brizzi - do blog Meu Filho Tipo 1 - beijo enorme pra você também querida!), daí ela não figurar nessa reverberação, o que não impede novos comentários dos leitores e da própria Fernanda.

domingo, 21 de setembro de 2014

Justiça Federal de São Paulo autoriza tratamento para reprodução assistida para paciente com mais de 50 anos

Em recente decisão, o Juízo de Direito da 6ª Vara Federal Cível de São Paulo deferiu pedido de tutela antecipada autorizando uma mulher com 52 anos de idade a receber as técnicas de reprodução assistida por meio de doação de óvulos. Contudo, os termos da sentença que reconheceu o direito ficaram submetidos à consignação da probabilidade efetiva de sucesso do procedimento, atestada pela própria médica responsável pelo tratamento da autora.

A autora havia pleiteado, ao Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp), autorização para que, sob os cuidados de sua médica assistente, pudesse submeter-se a técnicas de reprodução assistida numa clínica especializada. O Cremesp negou o pedido, sob o fundamento de que a pretendente contava mais de 50 anos de idade, o que lhe vedaria utilizar-se daquelas técnicas, conforme aos termos da Resolução nº 2.013/2013, do Conselho Federal de Medicina (CFM).

Diante da recusa, a autora impetrou contra o Cremesp uma ação ordinária com pedido de tutela antecipada, argumentando que a recusa ao pedido foi sustentada pelo órgão de classe paulista apenas sob a consideração do dado cronológico da idade da autora, o que “[...] viola o direito fundamental ao planejamento familiar, bem como que a demora no tratamento pode comprometer a saúde reprodutiva da paciente”.

A decisão concessiva principiou por invocar a norma básica de regulamentação do exercício legal da medicina (Lei nº 3.268/1957), que atribui ao CFM a competência para estabelecer o Código de Deontologia Médica (art. 5º, letra d). Mencionou também que, no exercício dessa competência, o CFM editou a Resolução nº 2.013/2013, estabelecendo as normas éticas para a utilização de técnicas de reprodução assistida (RA). O magistrado expôs que a referida norma determina que tais técnicas podem ser utilizadas somente diante da probabilidade de sucesso efetivo do procedimento, não podendo a paciente ou o futuro descendente incorrer em risco grave de saúde, e ainda que a idade máxima das candidatas à gestação por reprodução assistida é de 50 anos.

Assinala a decisão que, em 2013, em meio às discussões sobre reprodução assistida, foi protocolado o Projeto de Decreto Legislativo nº 1.359, que prevê a sustação da resolução do CFM. Apesar de a resolução proibir a reprodução assistida após os 50 anos, especialistas da área defendem que esse limite não pode ser adotado de forma absoluta, podendo ser afastada se for verificada no caso concreto a existência de condições favoráveis à RA e desde que haja autorização expressa do Conselho. Diante dessa concepção dos fatos, o profissional responsável pelo tratamento deve atestar em cada caso a realização do procedimento com fulcro na preservação da vida e saúde da mulher, na regularidade da gestação e do crescimento normal e saudável do feto. O direito fundamental da mulher à sua dignidade de pessoa humana, assegurada constitucionalmente, não pode ser obstado pelo Conselho, opinião reforçada pela Lei nº 9.263/1996, que assegura o planejamento familiar como direito de todo cidadão (art. 1º), entendido como “o conjunto de ações de regulação da fecundidade que garanta direitos iguais de constituição, limitação ou aumento da prole pela mulher, pelo homem ou pelo casal” (art. 2º) e reconhecido pela Suprema Corte (ADI nº 3.510-DF). Diante desses fundamentos, torna-se inviável o acolhimento da decisão do Cremesp que negou a efetivação do tratamento baseado apenas nos dispositivos da contestada resolução de 2013, sem considerar as circunstâncias peculiares do caso concreto.

Ao fundamentar sua decisão, o sentenciante fez referências aos riscos da maternidade nessas circunstâncias, mas também ao aumento da expectativa de vida, não somente quanto à longevidade, como em relação às melhorias alcançadas pela medicina no que concerne ao nível da qualidade de vida adquirido após os 30 anos e, claramente, ao direito da livre decisão da candidata ao procedimento. A própria resolução do CFM estabelece critérios para a conduta e responsabilidade do médico que conduzirá o tratamento.

Fundamentado nos documentos juntados aos autos pela autora, nas condições de saúde atestadas, decidiu pela concessão da tutela antecipada, a fim de se evitar a possibilidade de dano irreversível decorrente de eventual demora no início do tratamento, autorizando, por fim, a sua efetivação pelo laboratório escolhido pela autora, sob o atestado da médica responsável pelo acompanhamento clínico da requerente.
 
Fonte: Boletim nº 2906 da Associação dos Advogados de São Paulo - AASP