sábado, 27 de abril de 2013

SUS terá de fazer plástica após cirurgia de retirada de mama

Mulheres submetidas à cirurgia para retirada da mama para tratamento de câncer poderão fazer a plástica reparadora no mesmo dia pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A sanção da lei que obriga o SUS a ofertar os dois procedimentos em uma única cirurgia, feita pela presidente Dilma Rousseff, foi publicada nesta quinta-feira, 25, no Diário Oficial da União e já entrou em vigor.

A aplicação da regra, no entanto, dependerá da situação do paciente e da avaliação do médico. Quando não houver condições de a reconstrução ser feita imediatamente, a paciente terá de ser encaminhada para acompanhamento. O texto obriga o SUS a ofertar a cirurgia tão logo a mulher apresente as condições clínicas necessárias.

O Ministério da Saúde afirma que a reconstrução mamária já é oferecida depois da cirurgia para retirada do tumor. Estimativas de sociedades médicas, no entanto, mostra o oposto: apenas 10% das pacientes saem do centro cirúrgico já com a reconstrução das mamas. A média de espera para a cirurgia reparadora varia entre dois e cinco anos.
 
Fonte: AASP

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Garantido ao beneficiário o direito de receber o guia impresso de prestadores de serviços e/ou similar, sempre que solicitado

ANS define regras para divulgação da qualificação dos prestadores de serviços pelas operadoras de saúde

A Agência Nacional da Saúde publicou, em 21 de março, a Instrução Normativa nº 52, que define as regras para a divulgação da qualificação dos prestadoras de serviços pelas operadoras de planos privados de assistência à saúde em seus materiais de divulgação da rede assistencial.
A IN compreende a divulgação dos dados cadastrais referentes aos prestadores, com a respectiva padronização da informação, e a divulgação dos atributos da qualificação, especificados no art. 5º da RN nº 267, de 24 de agosto de 2011, que institui o Programa de Divulgação da Qualificação de Prestadores de Serviço na Saúde Suplementar.
As regras disciplinadas nesta IN se aplicam tanto ao material impresso quanto ao meio eletrônico de divulgação. Todos os prestadores de serviços que façam parte da rede assistencial da operadora, sejam próprios, contratados, credenciados, cooperados e referenciados, incluindo a rede de contratação indireta, deverão ter as suas informações divulgadas.
O art. 4º estabelece que os dados referentes à qualificação dos prestadores de serviços deverão ser divulgados agrupados por município e em, no mínimo, três grupos, quais sejam: prestadores de serviços hospitalares, especificando separadamente urgências e emergências; prestadores de serviços auxiliares de diagnóstico e terapia e clínicas ambulatoriais; e profissionais da saúde ou pessoas jurídicas que prestam serviços em consultórios.
A publicação das informações atualizadas sobre a qualificação dos prestadores de serviços contidas nos materiais impressos de divulgação da rede assistencial das operadoras deverá ser feita, periodicamente, no máximo a cada 12 meses. As operadoras deverão incluir na atualização as informações encaminhadas pelos prestadores de serviços com antecedência mínima de 60 dias da publicação.
De acordo com o art. 9º, na divulgação da qualificação dos prestadores de serviços em meio eletrônico, deverão ser informados a data de atualização dos dados cadastrais e o conteúdo do inciso II do art. 2º da RN nº 285, de 23 de dezembro de 2011, que dispõe sobre a obrigatoriedade de divulgação das redes assistenciais das operadoras de planos de assistência à saúde nos seus portais corporativos na internet.
Fonte: AASP

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Anvisa e Ministério da Saúde lançam Programa Nacional de Segurança do Paciente

Para garantir os direitos dos pacientes, o Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por meio da Portaria nº 529/2013, publicada em 1º de abril, lançou o Programa Nacional de Segurança do Paciente. O objetivo do referido programa é contribuir para a qualificação do cuidado em saúde em todos os estabelecimentos de saúde do território nacional. O intuito é prevenir e reduzir a incidência de erros e falhas durante o atendimento e internação nas redes pública e privada, que muitas vezes resultam em danos ao paciente, como quedas, administração incorreta de medicamentos e erros em procedimentos cirúrgicos.

Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 66% dos incidentes com pacientes poderiam ser evitados no Brasil. Conforme o art. 3º da Portaria nº 529, o programa visa promover e apoiar a implementação de iniciativas voltadas à segurança do paciente em diferentes áreas da atenção, organização e gestão de serviços de saúde, por meio da implantação da gestão de risco e de núcleos de segurança do paciente nos estabelecimentos de saúde, do envolvimento dos pacientes e familiares nas ações de segurança e da ampliação do acesso da sociedade às informações relativas à segurança do paciente, entre outras.

A portaria também obriga a notificação mensal de eventos adversos associados à assistência. A medida prevê sanções aos hospitais, até mesmo suspensão do alvará de funcionamento, e a serviços de saúde que não se adequarem às novas ações. Para prevenir essas ocorrências, o Ministério da Saúde e a Anvisa tornam obrigatório que todos os hospitais do país montem equipes específicas – chamadas de Núcleos de Segurança do Paciente – para aplicar e fiscalizar regras sanitárias e protocolos de atendimento que previnam falhas de assistência. O núcleo deverá entrar em funcionamento 120 dias depois da data da publicação da Portaria nº 529/2013.

Fonte: Associação dos Advogados de São Paulo - AASP

domingo, 14 de abril de 2013

Sobre carroças e diabéticos brasileiros, ou a insulina brasileiro-ucraniana

Em 1986 fui diagnosticada com diabetes mellitus aos 9 anos de idade, iniciando o tratamento com aplicações de insulina NPH, descoberta entre a década de 30 e 40. Não era humana, porque não se processava insulina humana ainda. Eu utilizava a insulina bovina, tendo em vista que a suína, indicada como melhor pelos médicos, também era mais cara, e nenhuma delas era distribuída pelo Governo. O Sistema Único de Saúde - SUS, criado pela Lei nº 8.080/1990, ainda não existia.

A NPH restringia bastante as minhas atividades, pois, em razão dos picos de atuação (momentos em que o efeito da insulina se torna mais forte), precisava me alimentar impreterivelmente a cada 3 horas. Se ficasse mais de 3 horas sem ingerir algum alimento, sofria hipoglicemias, cujos sintomas são tremores, tontura, perda temporária da capacidade cognitiva, podendo chegar a espasmos - a "grosso" modo, uma crise convulsiva.

Embora seguisse à risca a dieta alimentar, que excluía qualquer tipo de alimento que contivesse açúcar em sua composição (na época não existia refrigerantes sem açúcar, e chocolate para diabéticos era "Pan" ou o caríssimo "Gerbeaud"), um ano depois do diagnóstico, fui acometida por catarata nos dois olhos, típica complicação do diabetes.

Aos 10 anos de idade tinha aproximadamente apenas 40% da minha visão, e não podia ser operada ainda porque meu corpo estava em fase de desenvolvimento. Como não enxergava o que a professora escrevia na lousa, mesmo da primeira carteira, me sentava junto de uma colega, que me ajudava a copiar a matéria (meu caderno era uma brochura toda branca, porque não enxergava as linhas de um caderno normal, e utilizava canetas hidrocor para fazer anotações, porque também não enxergava as tintas de canetas esferográficas, nem dos lápis). Para fazer provas, minha mãe gravava numa fita K-7 os textos dos livros didáticos para eu ouvir, e as professoras me submetiam a teste oral.

Entre 1987 e 1992 recuperei um pouco da visão, e continuei meus estudos normalmente, com injeções de NPH, cadernos, lousas e esferográficas. Mas em 1993, quando então contava com 16 anos, a catarata avançou mais, e minha visão ficou restrita a 30% nos dois olhos. Não enxergava meu rosto em frente ao espelho. Tive que parar de estudar para cuidar da minha saúde e conseguir realizar a cirurgia do olho esquerdo. Fiquei 6 meses esperando a minha glicemia se regularizar, pois esta era uma condição para que eu pudesse ser operada.

Lembro que, poucos dias após a cirurgia, os resultados já começaram a aparecer. Ficava maravilhada com o verde das árvores, e com o brilho das cores da natureza, porque a catarata opacifica a visão. É como se houvesse uma cortina branca na frente dos olhos. Desde 1987 não via nada com brilho. Antes, o mundo era opaco pra mim, e agora brilhava!

Segui com meus estudos e entrei na Faculdade de Direito em 1997, sabendo que a vida seria sempre uma batalha, sendo eu diabética ou não. Mas o fato é que o meu histórico prévio da doença, aliado aos "conselhos" médicos da época, não me fizeram uma pessoa muito otimista. Costumo dizer que criança que não é diabética sabe que, quando apronta, vai sofrer algum castigo e não poder brincar, mas criança diabética que não segue as regras sabe desde pequena que seu "castigo" é a morte. Vi o tio de uma amiga, diabético, falecer aos 30 anos de idade, cego, com insuficiência renal, problemas nas extremidades e no coração. Fiquei muito impressionada com isso, e achei que não passaria dos 30.

Mas passei! Pouco antes de fazer 30 anos, em 2004, comecei a utilizar a insulina glargina (lantus), patenteada pela francesa Sanofi-Aventis no início da década de 2000. Sem picos de atuação, a insulina permite uma flexibilidade maior no quotidiano do diabético e, aliado às insulinas ultrarrápidas, que começam a agir 15 minutos após a aplicação, é possível comer de tudo. Meu grande prazer era ficar 6 horas sem comer nada, pelos simples fato de não ser mais "obrigada" a comer a cada 3 horas. As crises hipoglicêmicas diminuíram significativamente.

Em 2007, mesmo depois de casada, minha mãe ainda me ajudava a pagar os insumos de diabetes, num total de R$ 800,00 por mês. Sentia-me um peso por causa disso, e comecei a procurar o fornecimento de insumos pelo SUS. Antes de receber uma resposta negativa para recebimento da lantus e da ultrarrápida, tive que passar em vários postos da prefeitura e da Secretaria da Saúde do Estado, pois não havia informações corretas quanto ao local para requerimento dos remédios, e quando eu achava o local, não estava mais lá, já havia mudado para outro endereço.

Assim, em 2008 comecei minha batalha judicial pelo fornecimento de insumos de diabetes, sendo eu mesma a minha primeira cliente. Quando consegui a liminar para receber todos os meus insumos, liguei para minha mãe, e disse que ela não teria mais gastos comigo. Senti um peso enorme ser retirado das minhas costas. E vieram outros clientes diabéticos, e outros processos. Em todos eles, a Secretaria da Saúde alegava que fornecia a NPH, que seria similar à glargina pleiteada, e eu explicava para os Juízes que na prática e na composição farmacológica as insulinas eram bem diferentes. Assim, em função da não similaridade, o Estado era obrigado a fornecer a insulina melhor.

Os Juízes, por sua vez, só concediam o fornecimento dos insumos pelo SUS se considerassem que o paciente era praticamente miserável, restringindo judicialmente o acesso ao Sietema Único de Saúde, que por sua própria determinação legal é UNIVERSAL (ou seja, deve atender a todos, ricos ou pobres).

Em 2009, tendo em vista o grande número de processos para fornecimento de tratamentos de saúde, o Supremo Tribunal Federal realizou uma audiência pública para discutir a judicialização da saúde no Brasil, através da fala de especialistas no assunto das áreas jurídica, médica e administrativa. Fiquei sabendo desta audiência uma semana antes de sua realização e, verificando os documentos enviados pela sociedade civil, percebi que não havia qualquer menção ao diabetes, o que me surpreendeu, pois sempre recebi inúmeros folhetos de propaganda de associações de diabetes, e nenhuma delas se mobilizou para defender os diabéticos usuários do SUS. 


Em Brasília, descobri que os procedimentos do SUS no que tange ao fornecimento de insumos de diabetes são muito diversificados pelo Brasil afora. Quem acredita naquela história de que na região Nordeste é tudo pior, está muito enganado. Em conversa com a Secretária da Saúde do Estado do Ceará, descobri que lá o fornecimento da insulina glargina "lantus" estava há muito padronizado. Ela não acreditou quando disse que no Estado de São Paulo, principalmente na Capital, era uma tarefa impossível receber essa insulina pelo SUS.

O menosprezo pelo assunto por parte do Governo ficou claro com a (falta de) participação do Ministério da Saúde no primeiro dia da audiência pública: o então Ministro, José Gomes Temporão, nem se dignou a comparecer ao evento, enviando seu assessor para falar que renovaria o protocolo do SUS, o que não foi feito até hoje.

A despeito do meu pessimismo preeestabelecido, depois de conversar com vários Juízes e perceber que a falta de conhecimento sobre a gravidade do problema é que impedia o acesso dos pacientes aos remédios, seja via judicial seja via administrativa, e perceber que uma orientação adequada conseguia surtir efeitos extremamente positivos, principalmente acerca dos efeitos práticos das insulinas NPH e glargina, sentia que poderíamos ter um avanço, através da luta pela incorporação da lantus ao protocolo do SUS, que, apesar de ser o padrão mínimo de fornecimento, é utilizado por algumas administrações como teto.

Em meados de 2012 conheci Maristela Prilips, diretora da Associação Jacareinse de Diabetes, que por empenho próprio e sem apoio governamental ou institucional, conseguiu que o munícipio de Jacareí fornecesse a insulina glargina administrativamente. Mas logo no início deste ano de 2013, após reeleição por campanha centrada na saúde, o prefeito daquele município do interior de São Paulo substituiu o fornecimento de lantus pela NPH, que já está prejudicando os pacientes que retornaram à prisão alimentar dos picos de atuação dessa insulina, alegando excesso de gastos com o insumo.

O argumento, todavia, não se justifica na prática, pois o diabetes implica em gastos inevitáveis. Os efeitos do mau controle são devastadores, minando o funcionamento do corpo do doente em praticamente todos os órgãos, ou seja, o SUS terá gastos tanto para cuidar previamente do diabético, através do fornecimento de uma insulina melhor, ou, não fornecendo a glargina, através dos cuidados paliativos antes da morte por complicações da doença. Assim, melhor "investir" nos cuidados preventivos, garantindo qualidade de vida ao diabético (que vivendo melhor, trabalha melhor, consume melhor, ou seja, também contribui para o aquecimento da economia), do que gastar com hemodiálises, cirurgias de catarata, coração, etc (e condenar o diabético a ser um expectador da destruição lenta de seu corpo) tese também defendida em meu texto enviado para o STF.

Mesmo porque, os investimentos nessa área ainda são pequenos, posto que a maioria das administrações investe apenas o mínimo obrigatório estipulado pela Constituição Federal. Além disso, alguns gastos nem são especificamente com tratamentos de saúde, tanto que no início de 2012 a presidenta Dilma editou uma lei para especificar o que se caracterizaria como tal (ou seja, para explicar para o administrador público que gastos com reformas de prédios de secretarias de saúde não são investimentos em saúde).

No início desta semana uma amiga que conhece minha luta pelos direitos dos diabéticos perguntou se a nova insulina que seria produzida pelo Brasil e Ucrânia era boa. Não tinha visto a notícia ainda e, quando pesquisei no sítio da Fundação Oswaldo Cruz, instituição subsidiada pelo Ministério da Saúde, li uma entrevista a respeito do assunto, falando sobre a produção binacional de insulina recombinante. 

Fiquei emocionada, porque as informações foram sendo passadas em conta-gotas. Quando eles usaram a palavra recombinante no início do texto, achei que era a quebra de patente da insulina produzida pela Aventis, a glargina (lantus), produzida a partir de DNA recombinante. Mas no meio da entrevista falavam em cristais e nas duas empresas que produzem as ultrarrápidas, também modernas. Então pensei que eram elas e, mesmo não sendo a mais cara (a lantus), também seria uma coisa boa. 

Mas, depois que o Ministério da Saúde e a Fundação Oswaldo Cruz passaram mais informações sobre a produção de insulina pelo Brasil e Ucrânia, percebi que, infelizmente, não houve quebra de patente, a insulina que eles vão produzir é uma medicação obsoleta, a velha (de 1936) NPH. Estou frustrada! Acreditava que um sonho tinha se realizado, mas na verdade é uma farsa com a pior das intenções: mascarar uma insulina de tecnologia ultrapassada para dizer que é similar à mais moderna, sem picos de atuação, apenas pelo fato de utilizar tecnologia recombinante. Todas as insulinas atuais são processadas a partir de DNA recombinante, mas apenas a glargina tem duração estável, em razão da modificação de uma cadeia de aminoácidos. Portanto, não são similares, nem na composição, muitos menos no funcionamento.

Em uma comparação bastante grosseira, seria como o Governo Federal dizer que resolveria o problema do transporte no Brasil através do investimento numa fábrica nacional de carroças. É isso que eles estão fazendo: investindo milhões na produção de um medicamento obsoleto.

Colocar uma criança hoje em tratamento de diabetes com a insulina NPH é sujeitá-la aos mesmos problemas, e ainda outros, similares aos que eu tive 20 anos atrás, opacificando a  sua infância e adolescência. A diferença é que, na época, não existia tecnologia mais moderna para melhorar o controle da doença, e hoje existe.

No meu caso, tendo em vista as variações glicêmicas a que fiquei sujeita por longos anos utilizando a NPH, me tornei assintomática, ou seja, meu corpo não tem mais sinais de hipoglicemia ou hiperglicemia. Apesar de melhorar bastante com a utilização da lantus, o estrago causado pela NPH já se instalara. Durante 2011, ao menos uma vez por semana sofria crises graves de espamos (tipo de convulsão), e tive que colocar uma bomba de infusão de insulina com monitoramento de glicemia em tempo integral, também obtida através de processo judicial para fornecimento pelo SUS.

Assim, não há motivos para se comemorar. A produção da insulina brasileiro-ucraniana representa perda de investimento, e retrocesso no tratamento dos diabéticos. Nada menos que a inclusão da glargina no protocolo do SUS para diabetes é suficiente. Essa será minha bandeira!  

A pergunta que fiz no meu texto enviado ao STF vai continuar a ecoar, até que a resposta seja diferente da atual. Qual resposta o Executivo brasileiro quer dar a uma criança de 9 anos quando questionar se sobreviverá sendo portadora de diabetes: que morrerá em 10 ou 20 anos, com múltiplas falências dos órgãos, ou que viverá muito tempo em função de um novo modelo de atendimento, que, assim como no caso da AIDS, será também exemplo ao mundo? 


Quadro comparativo da atuação da lantus (azul escuro) - estável e sem pico de atuação, e da NPH (azul claro) - instável e com pico de atuação

Utilizando o sensor para evitar hipoglicemias (sem hiperglicemias posteriores)

Assintomática que sou, instalei a bomba de infusão de insulina com o monitoramento contínuo através do sensor principalmente para evitar hipoglicemias severas. No início da utilização do sensor, entretanto, tive alguns problemas após os avisos de hipoglicemia, com elevação da glicemia após a correção da hipo.

Conforme sugestão do manual da bomba, ajustei o padrão do sensor para me avisar quando a glicemia ficasse abaixo de 70mg/dl. Assim, quando o sensor verificava que a glicemia estava abaixo desse valor, apitava. Eu consumia 15 gramas de carboidrato, e 15 minutos depois o sensor apitava novamente, dizendo que a glicemia permanecia baixa. Eu consumia mais 15 gramas de carboidratos a cada novo apito. Depois de uns 45 minutos, a glicemia se elevava para cima de 200mg/dl, e eu tinha que fazer bolus de correção.

Relendo o manual mais atentamente, percebi que no capítulo sobre padrões do sensor a empresa indica que, para casos de hipoglicemias constantes e severas, é melhor deixar o padrão um pouco mais elevado, pois antes mesmo da glicemia cair é possível tomar as providências para evitar a hipoglicemia. Assim, mudei o padrão para que o sensor me avisasse quando a glicemia estivesse abaixo de 85mg/dl. Melhorou bastante, mas mesmo assim, depois de 15 minutos, a bomba continuava apitando, e eu consumia mais carboidratos, e depois a glicemia subia para perto de 180mg/dl.

Com o tempo, percebi que quanto mais baixo o valor atingido pelo sensor, mais ele demora para reconhecer o restabelecimento da glicemia ao padrão de normalidade. Se na ponta do dedo conseguimos verificar que a glicemia voltou ao normal após 15 minutos, respeitando o "delay" da bomba, é preciso esperar uma meia hora para saber se a glicemia está normal, ou, após 15 minutos, medir na ponta do dedo, o que é indicado quando a glicemia chega próxima a 50mg/dl, porque, nesse caso, ela demora mais de meia hora para apontar os valores reais. Fazendo dessa forma, consegui evitar hiperglicemias posteriores à correção de hipoglicemias.

Quanto às hiperglicemias, meu padrão inicial de aviso era quando a glicemia superasse 180mg/dl, mas nesse nível já era tarde para fazer a correção com insulina, e a glicemia acabava superando os 230mg/dl. Assim, mudei o valor máximo para 150mg/dl, passando a bomba a me avisar sobre hiperglicemias quando chegasse a 151mg/dl. Também melhorou bastante, pois, se houver insulina ativa, a bomba não dá o bolus de correção, avisando que logo a glicemia se restabelecerá. Se não houver insulina ativa, a bomba faz uma pequena correção, e a glicemia não ultrapassa os 170mg/dl.

Erro de calibragem

Desde que instalei o sensor da bomba há quase um ano, passei por muitas situações no momento da calibragem que me deram bastante dor de cabeça ou acarretaram a falha do sensor, quando não as duas coisas ao mesmo tempo. Vou listar aqui as 3 situações mais comuns, pelas quais passei, de erro de calibragem:

- Calibragem com hipoglicemia ou hiperglicemia: embora a minha querida amiga enfermeira que me passou as instruções sobre a utilização da bomba de insulina e do sensor tenha me orientado para não fazer a calibragem em situações de hipo ou hiperglicemia, teimosa que sou, resolvi testar a informação. Não dá mesmo! Sempre que calibrei o sensor em situações de hipoglicemia (abaixo de 70mg/dl), ele funcionava, mas o índice glicêmico intersticial ficava sempre bem abaixo do índice medido na ponta do dedo. Já no caso de hiperglicemia (acima de 180mg/dl), a bomba não aceita a informação e apresenta a mensagem "erro de calibragem". Ao inserir novamente o índice glicêmico de hiperglicemia, ela apresenta de novo a mensagem de erro, e em seguida "sensor com defeito", sendo necessária a troca do sensor. Certa vez, na primeira calibragem após a instalação do sensor, minha glicemia estava em 319 mg/dl. Inseri esta informação na calibragem. A bomba até aceitou, mas depois de um tempo, começou a indicar quedas e subidas bruscas de glicemia (num momento apresentava 89mg/dl com duas setas para baixo, e 5 minutos depois mostrava 200mg/dl com duas setas para cima). No manual da bomba existe uma informação dizendo que a calibragem pode ser feita quando a glicemia estiver entre 40mg/dl e 400 mg/dl. Este erro já foi apontado para a empresa e será retirado dos próximos manuais. A calibragem só fuciona mesmo dentro de um padrão de normalidade glicêmica (para diabéticos), ou seja, entre 70 mg/dl e 180mg/dl. Se no momento da calibragem o meu índice glicêmico está acima ou abaixo desses números, não faço a calibragem antes da correção: se é caso de hipo, faço a ingestão de carboidratos suficientes para a glicemia se normalizar, e no caso de hiper, faço o bolus de correção indicado pela bomba. Apenas depois de normalizada a glicemia, faço a calibragem;

- Perda de contato entre o sensor e o transmissor: após inserir o índice glicêmico da ponta do dedo na bomba para a calibragem, ela demora uns 20 minutos para fazer os cálculos do índice instersticial. Se nesses 20 minutos posteriores à inserção dos dados ocorre a perda de contato entre o sensor e o transmissor, a calibragem não funciona, e a bomba apresenta a mensagem "erro de calibragem", e pede nova inserção de dados ("medir gs agora"). Assim, logo após a calibragem, procuro evitar situações que façam a bomba ficar distante do sensor, como tomar banho, por exemplo, para evitar esse problema de calibragem:

- ISIG baixo: o ISIG (interstitial glucose value), que sempre aparece na tela "estado do sensor", é o número correspondente à quantidade de células que estão em contato com o sensor no momento.  Este número pode variar bastante, inclusive em função do tempo de instalação do sensor e do local da instalação. Isso não é um dado científico, mas observei que, sempre que o sensor se dobra dentro da pele, o isig cai vertiginosamente. Quando o número do isig está abaixo de 5, o índice glicêmico intersticial costuma apresentar alterações maiores, e nem sempre corresponde à situação real. Uma vez coloquei o sensor bem na altura da cintura e, como trabalho sentada, minha barriga dobrava justamente sobre o sensor, que não durou dois dias, pois no segundo já apresentava um isig baixíssimo, e no momento da calibragem, deu erro e falha do sensor. Ao retirar o sensor da pele, percebi que ele estava completamente dobrado, era quase um "L".Assim, prefiro instalar o sensor no braço (na região do tríceps), onde o sensor dificilmente se dobra por dentro da pele. Mesmo assim, algumas vezes, no último dia antes da troca do sensor, o isig começa a cair, e, quando fica abaixo de 5, a bomba não aceita a calibragem, sendo necessária a troca do sensor pouco antes de seu fim.

Caminhando com o sensor

Ao começar a usar o sensor da bomba de insulina com monitoramento contínuo, cometi muitos erros (e ainda cometo) por falta de experiência e bastante teimosia. Mas para fazer caminhadas utilizando o sensor, já que tive orientação médica (e a segui), consegui acertar desde o começo. Há 3 opções para evitar hipoglicemias durante o exercício:

1. Suspensão da administração da basal
O sensor, além de avisar sobre ocorrências de hipoglicemias e hiperglicemias, também pode nos ajudar a prevenir queda e elevação dos níveis de glicose quando conseguimos aprender a interpretar as setas indicativas de tendências.
No primeiro dia em que fui caminhar utilizando o sensor, fiz uma experiência para saber qual o efeito do exercício sobre a caminhada. Quando saí de casa, minha glicemia estava em 180 mg/dl. Depois de uma hora de caminhada, a glicemia estava em 80 mg/dl. Portanto, a caminhada queimou aproximadamente 100mg/dl, que estabeleci como meu parâmetro de segurança.
Assim, adotei o seguinte procedimento para caminhar, que vem dando certo: se antes de sair para caminhar a minha glicemia está igual ou abaixo de 100mg/dl, suspendo a aplicação da basal. Se durante a caminhada ela ultrapassa 100mg/dl e apresenta uma seta indicativa de tendência para cima, retomo a aplicação da basal. Se um tempo depois ela volta a ficar abaixo de 100mg/dl com uma seta indicativa de tendência para baixo, suspendo novamente a basal, e só retomo ao chegar em casa.
Além disso, sempre levo comigo uma garrafinha (270 ml) de refrigerante doce, pois às vezes a glicemia continua caindo, mesmo após a suspensão da basal, e preciso tomar um pouco (nem sempre a garrafa toda, em geral 1/3) para evitar a continuidade da queda. Acompanhando as setas de tendência durante a caminhada, vou adaptando a aplicação ou suspensão da basal, e a administração de doses de refrigerante.
Apesar de conseguir evitar incidentes, levo também minha carteira de diabética, do plano de saúde, do SUS, minha identidade, e um pouco de dinheiro para o caso do refrigerante não ser suficiente para fazer a glicemia subir.
Se a basal permanece suspensa durante toda a caminhada, verifico duas horas depois se a glicemia não subiu por conta da suspensão. Pelo que venho observando, ela não sobe depois. 
Ainda que não seja uma caminhada esportiva, esse procedimento também dá certo quando me desloco a pé por períodos superiores a 15 minutos, ou quando faço uma caminhada na praia.


2. Diminuição da basal de duas horas antes da caminhada
Se a caminhada é feita no mesmo horário, também é possível programar a basal de duas horas antes um pouco abaixo do normal, para que durante a caminhada haja menos insulina agindo. No meu caso, costumo fazer uma caminhada das 11h00 às 12h00. Assim, diminuí a dose basal das 09h00 para conseguir caminhar tranquila. Mas nos dias de chuva ou de frio não faço a caminhada. Assim, se o dia amanhece feio, sabendo que não caminharei às 11h00, elevo um pouco a basal das 09h00. Se no dia seguinte amanhece com sol, abaixo novamente para fazer a caminhada às 11h00. Também funciona.

3. Basal temporária
Lendo o manual da bomba, descobri a basal temporária, e uma das indicações é justamente para a prática de exercícios. Assim, testei essa opção para ver como ficava minha glicemia. No horário que fui caminhar, a minha basal normal era de 0,65u/h. Faria uma caminhada durante uma hora. Assim, programei uma basal temporária de 0,35u/h (quase metade do padrão em que estava) pelo período de 2 horas. Apesar de precisar tomar meia garrafinha de refrigerante depois de 30 minutos de caminhada, consegui evitar quedas posteriores à prática do exercício, e a glicemia não subiu depois. Minhas medidas fora: antes-103; durante-92;1 hora após-126; várias horas após-98. Portanto, pode ser também uma boa opção, embora eu ainda prefira as duas anteriores. Mas isso vai de cada um, e pode ser que outras pessoas se adaptem melhor com esse método.

Fim do sensor de madrugada

Quando comecei a usar o meu sensor de glicemia da bomba de infusão de insulina em junho de 2012 tive muitas dúvidas, e verifiquei que nem todas as soluções estavam presentes no manual. Procurando na rede mundial discussões acerca do assunto, encontrei muitos chats em inglês, e quase nada em português. Assim, criei esta seção "Dicas de sensor de glicose intersticial" para compartilhar minhas experiências com outros usuários de bomba de infusão de insulina com monitoramento contínuo de glicose.

Na primeira vez em que o fim do sensor ocorreu de madrugada, por ter muitas hipoglicemias justamente nesse horário, não quis esperar até o dia seguinte para fazer a troca. Assim, instalei o sensor novo de madrugada mesmo. Mas descobri que nesse período, o sensor demora muito mais para ficar "molhado". Tive que esperar durante 1 hora até o sensor fazer contato com o transmissor. E depois de duas horas precisei acordar para fazer a primeira calibragem, o que me deixou muito cansada no dia seguinte

Ontém, o fim do sensor ocorreu à meia-noite. Para não passar pela mesma experiência inexitosa, e para não passar a noite sem monitoramento, com risco de hipoglicemias noturnas, reativei o sensor pela segunda vez. Em 10 minutos ele pediu a calibragem e continuou funcionando normalmente. Só hoje pela manhã, depois de passar a noite devidamente monitorada, fiz a troca do sensor, depois de carregada a bateria.